
O voluntariado parecia uma ótima maneira de esquecer um pouco sobre finanças, tanto as do banco onde trabalhei quanto as minhas próprias, e simplesmente aproveitar a oportunidade de contribuir para algo significativo, sem as obrigações típicas de um emprego formal ou o foco no ganho financeiro. Aqui na fazenda Eco Caminhos, onde a mentalidade da permacultura serve como um princípio fundamental, não há necessidade de uma assinatura de academia, pois o equilíbrio certo está no próprio trabalho diário, repleto de momentos de atividade física e alimentação saudável. Mas, afinal, onde fica esse lugar?
A Majestosa Mata Atlântica
A majestosa Mata Atlântica, antes dos tempos coloniais ainda a segunda maior floresta tropical do planeta, com impressionantes 1 a 1,5 milhão de km², foi quase completamente desmatada. Apenas cerca de 15% da área original permanece, com muitas espécies de plantas e animais ameaçadas de extinção. Ao mesmo tempo, é surpreendente que esta região ainda contenha aproximadamente essa mesma porcentagem da biodiversidade mundial, com novas espécies sendo descobertas todos os dias.
A 1.200m de altitude, na fazenda Eco Caminhos, tenho a sorte de desfrutar de uma vista incrível sobre parte desses 15%, enquanto saboreio um café de qualidade e pão caseiro durante nossa pausa matinal. É aqui que, como voluntário, estou aprendendo os conceitos básicos de agrofloresta, permacultura e bioconstrução, como e por que esses conceitos estão sendo aplicados na fazenda e os benefícios que proporcionam, tanto para as pessoas quanto para a natureza.
As vistas deslumbrantes da paisagem natural, com toda a sua diversidade, são complementadas por uma mistura igualmente impressionante de voluntários internacionais, aprendizes locais e funcionários. Do Canadá ao Japão, da Colômbia à Coreia, passando por toda a Europa e diversas regiões do Brasil, todos se reuniram nesta fazenda com objetivos semelhantes: conectar-se, contribuir e aprender.
Agrofloresta
Como parte da agrofloresta, tanto na apresentação teórica quanto na experiência prática nos respectivos sistemas, aprendemos, por exemplo, sobre os diferentes estratos ou camadas que existem agora e que estarão presentes no futuro, à medida que os campos evoluem constantemente. Cada vez que podamos, elevamos o sistema a um nível superior. Quanto mais avançada a floresta, mais rica é a biomassa. O que acontece aqui, nos dizem, é uma constante acumulação de qualidade. Mas primeiro, vem a tarefa básica de capinar antes de empunhar o facão. Sujando as mãos ao limpar o solo ao redor das plantas de café, a cultura comercial integrada aos sistemas agroflorestais, entendemos que o objetivo aqui não é o café em si, mas trazer de volta a floresta. O café é um meio para um fim, tornando tudo isso possível. Um macaco mico parece interessado nas explicações e nos observa feliz do alto, antes de decidir pular para uma das grandes bananeiras e fugir com uma de suas frutas.
Bioconstrução
Após uma introdução teórica básica à bioconstrução, é hora de não apenas sujar as mãos, mas também os pés. Ao som de uma salsa colombiana, dançamos descalços em uma mistura de argila, areia, água e capim seco. Adicionando mais de um ou outro ingrediente conforme avançamos, a mistura lentamente adquire a consistência e qualidade necessárias para ser usada como material de construção, chamado cob. Estamos um pouco mais abaixo da colina, afastados da fazenda principal, e é aqui que estamos construindo o futuro. O projeto, chamado Ecolibrium, não é apenas o futuro da fazenda, mas também o futuro da região, segundo a visão de Bart, fundador da Eco Caminhos e presidente da Associação Ecolibrium.
Com cerca de 1200 m³, o Ecolibrium é um dos maiores projetos de bioconstrução da América Latina e pretende ser um centro de conhecimento voltado para capacitação, parcerias educacionais e eventos, com o objetivo de gerar impacto social na região e além. Enquanto tentamos fixar o cob na parede e espalhá-lo de maneira uniforme (algo muito mais difícil do que parece), ouvimos Bart explicar que a visão do Ecolibrium é criar uma consciência na região que harmonize agricultura, vida e comunidade com a natureza. O foco é transmitir esse conhecimento à próxima geração, ensinando os princípios da permacultura, agrofloresta e bioconstrução para um público local e global.

Sonhando Grande
Parece algo grandioso. E realmente é. Mas sonhar grande e seguir firme nesse propósito é também o que a Eco Caminhos representa, como aprendi rapidamente. Observando o que estamos fazendo e o público global já presente, parece e se sente como se o projeto estivesse definitivamente no caminho certo. Para alguns, tudo isso pode parecer exagerado, até mesmo loucura, enquanto para outros, trata-se de uma ação concreta diante do estado do mundo. Para mim, às vezes é impressionante ouvir sobre todos os diferentes componentes que juntos formam essa grande visão, mas independentemente do que você pense, acima de tudo, é algo admirável e inspirador.
A hora do almoço costuma ser um ótimo momento para se reunir novamente depois que todos estão espalhados pela fazenda. É quando compartilhamos experiências, ideias e discutimos sobre o estado do mundo ou simplesmente apreciamos comida fresca e deliciosa direto da fazenda. Uma família com crianças, que também tem participado por algumas semanas, explica que escolheu explicitamente o Eco Caminhos em vez da praia de Ipanema com o propósito claro de expor sua próxima geração desde cedo a esse tipo de ambiente, filosofia e estilo de vida. Olhando para a Mata Atlântica enquanto ouço essas palavras, tudo parece fazer tanto sentido, e a visão que ouvimos em diferentes ocasiões e que está entrelaçada no trabalho diário parece estar logo ali.
Trabalho árduo cortando bananeiras
No entanto, ao limpar a lama ou o barro que acabei espalhando pelo rosto em um dos dias de bioconstrução e ao sentir a dor muscular nos braços, também é importante notar que esta não é a versão romântica da vida em uma fazenda sustentável, onde você relaxa em uma rede e simplesmente observa a natureza cuidar de si mesma. Ou fuma um baseado abraçando uma árvore, como às vezes brincam. Nada disso. Definitivamente, é um trabalho árduo. É muito físico e, claro, cortar troncos enormes de bananeira por horas em pedaços pequenos para serem usados como biomassa para os pés de café pode ser monótono além de cansativo. Especialmente levando em conta o calor e a umidade, além das subidas e descidas constantes nas linhas de agrofloresta em uma encosta íngreme, o que não facilita nada. Mosquitos irritantes, aranhas enormes e cobras venenosas também estão por lá para tornar tudo ainda mais desafiador.
Mas vale a pena? Ah, com certeza. Com que frequência você tem a chance de acordar no meio de um ambiente tão verde e exuberante, contribuindo para sua preservação, restauração e expansão, enquanto compartilha essa experiência com um grupo diversificado e inspirador de pessoas de todos os cantos do mundo? E, claro, como forma de equilibrar o trabalho pesado, também há bastante tempo para diversão e jogos. Seja em torneios de pingue-pongue, jogos de tabuleiro e cartas, trilhas na natureza ou passeios de mountain bike, noites sociais e churrascos, tudo isso contribui para equilibrar o esforço físico com conexões sociais e momentos de lazer. Ah, e mencionei a cachoeira a poucos passos da casa dos voluntários? E mais uma dúzia delas acessíveis a pé, uma mais bonita que a outra. Refrescantes e revigorantes depois de um dia longo e quente.
Universidade da vida
Quando isso não é suficiente, parte da mentalidade permacultural também nos ensina que a paciência é fundamental. Ver as tarefas que fazemos e também a nós mesmos como parte do processo, sabendo que tudo o que é feito na fazenda tem um propósito (aqui nada é aleatório), traz um sentimento de propósito. Ao mesmo tempo, a repetição e a disciplina exigem praticidade. Por isso, a fazenda quer se destacar pela simplicidade, observando exemplos da própria natureza, algo que parece termos perdido com o tempo e que precisamos reaprender. E sinto que este é definitivamente um bom lugar para isso.
Sendo a única espécie que tem a escolha de arruinar ou melhorar as coisas, é incrível ver que, enquanto perco um jogo de pingue-pongue para um dos jovens aprendizes, o projeto deu a esses jovens uma oportunidade – e eles claramente a aproveitaram, fazendo a escolha pelo melhor caminho. Nesse sentido, o Eco Caminhos pode ser visto como uma pequena universidade da vida, girando em torno de uma mudança de mentalidade, onde a vida comunitária e a necessidade de colaboração, ao mesmo tempo que o isolamento, funcionam como um espelho constante para autorreflexão e crescimento. Em tudo o que ouvimos, fica claro como o futuro, representado pelo espaço Ecolibrium, expandirá ainda mais o componente social da fazenda, alcançando inúmeras crianças e jovens, assim como já faz hoje. Com energia e motivação, acordo feliz às 6h da manhã para começar mais um dia de trabalho árduo, fazendo cob e espalhando a mistura mágica como acabamento final nas paredes.
Acúmulo constante de qualidade
Atualmente, estamos trabalhando para finalizar a primeira fase, ou cerca de um terço, do espaço Ecolibrium. Necessitando de muito financiamento e com tudo o que está acontecendo e ainda está por vir, às vezes é difícil imaginar como tudo será concretizado. Mas ouvir sobre o meio-termo, ou ‘pensar como empresa, mas agir com o coração’, ilustra bem a abordagem adotada. Não pelo dinheiro, mas pela necessidade de resultados. Tomar decisões difíceis às vezes é necessário, mas nunca perdemos de vista o impacto social que o projeto quer alcançar.
Trocar o setor bancário pela construção e as finanças pela agricultura foi definitivamente outra grande mudança na vida, e tem sido muito para absorver nessas semanas no Eco Caminhos. No entanto, uma coisa é clara: trata-se, de fato, de uma acumulação constante de qualidade, em todos os sentidos imagináveis. Qualidade da comida, do ar fresco e das conversas estimulantes, purificando tanto o estômago quanto a mente. Qualidade das paisagens deslumbrantes, das conexões humanas e dos sons da natureza. Dia após dia, vendo os sistemas agroflorestais se desenvolverem e o canteiro de bioconstrução crescer. Passar um tempo no Eco Caminhos é como acumular qualidade de vida.
